Fim dos Veículos a Combustão! Qual cenário dos próximos anos?

Entenda o futuro dos carros a combustão nos próximos 10 anos: leis, impostos, combustível, valor de revenda e o papel dos elétricos na sua vida.

Vanildo Santos

12/11/20258 min ler

Carros a combustão vão acabar? O que ninguém te conta sobre os próximos 10 anos

Falar que “carro a combustão vai acabar” rende clique, medo e manchete. Mas a verdade, olhando para leis, mercado e tecnologia, é bem mais complexa — e muito mais importante para quem tem (ou pretende ter) um carro a gasolina, etanol ou diesel nos próximos anos.

Nos bastidores, montadoras, governos e investidores já estão fazendo suas apostas para o período 2025–2035. É a década em que a indústria sai do piloto automático e entra de vez na transição. Não é o “apocalipse da gasolina”, mas também não é “vida normal para sempre”.

Vamos organizar esse caos em linguagem de gente:
o que já está decidido, o que está em disputa e, principalmente, o que muda na sua vida se você continuar (ou não) na combustão pelos próximos 10 anos.

1. O que já está decidido no mundo – e o que ainda está em briga

Hoje existem duas camadas de decisão ao mesmo tempo:

  1. Países e blocos que já aprovaram metas para zerar vendas de carros novos a combustão em certos anos.

  2. O “vai e volta” político dessas metas, conforme economia, emprego e aceitação dos elétricos oscilam.

A União Europeia, por exemplo, aprovou uma regra que, a partir de 2035, só permite a venda de carros novos que não emitam CO₂. Ou seja: na prática, nada de motor puramente a gasolina ou diesel — apenas elétricos a bateria, hidrogênio ou alguma forma de tecnologia que zere emissão no escapamento.

Só que, desde 2024, vários países do bloco começaram a pressionar para suavizar essa regra, permitindo híbridos ou carros que usem combustíveis sintéticos de baixa emissão depois de 2035.

Outros países fora da Europa também anunciaram metas de fim de venda de carros a combustão para novas unidades na próxima década — muitas vezes entre 2030 e 2040.

Ponto-chave que quase ninguém explica:

  • Essas metas valem para carros novos, não para o carro que você já tem.

  • Mesmo nos países mais agressivos, a frota a combustão continua circulando por muitos anos depois.

Ou seja: não existe hoje nenhum plano sério dizendo que, em 2035, seu carro a combustão será “ilegal” por padrão.
O que existe é uma pressão crescente para que os novos carros vendidos sejam cada vez menos poluentes.

2. O ritmo real da virada: EV ainda é minoria, mas cresce em velocidade absurda

Olhando para manchete, parece que “todo mundo só compra elétrico agora”. Não é bem assim.

Segundo a Agência Internacional de Energia, as vendas de carros elétricos ultrapassaram 17 milhões de unidades em 2024, um crescimento de mais de 25% em relação a 2023. Isso fez os elétricos passarem de 20% das vendas globais de carros novos.

Traduzindo:

  • A cada 5 carros novos vendidos no mundo, 1 já é elétrico.

  • A frota global já passa de 50 milhões de elétricos em circulação, e crescendo.

Nos próximos 10 anos, se essa curva se mantiver (e tudo indica que sim, com variações regionais), você deve ver elétricos se tornando maioria nas vendas novas em vários mercados grandes — China, parte da Europa, possivelmente Estados Unidos.

Mas “maioria nas vendas novas” não significa que metade da frota do mundo será elétrica. Carro dura. A frota leva décadas para se renovar.

O cenário mais realista até 2035 é:

  • Elétricos dominando as vendas novas em alguns países,

  • Híbridos ganhando espaço em outros,

  • E uma frota gigantesca de carros a combustão ainda rodando ao mesmo tempo, especialmente em países emergentes.

3. E o Brasil no meio disso tudo?

Aqui o filme é diferente.

O Brasil tem duas cartas na manga que mudam a conversa:

  1. Etanol e flex – uma base instalada enorme de motores que já podem usar combustível renovável.

  2. Uma visão oficial de transição que mistura biocombustíveis + eletrificação, em vez de “só elétrico e fim de papo”.

Estudos sobre o futuro da energia no país projetam cenários em que, até 2035, a gasolina seja praticamente substituída por etanol na frota flex, usando áreas já degradadas para plantar insumos de biocombustível.

Ao mesmo tempo, relatórios mostram que a expansão da mobilidade elétrica até 2040 exigiria cerca de R$ 25 bilhões apenas em infraestrutura de recarga, além de investimentos em geração elétrica.

Na prática, isso indica:

  • O Brasil não deve proibir motor a combustão de uma hora para outra.

  • A tendência é convivência longa entre flex a etanol, híbridos e elétricos, com diferentes papéis.

Há até propostas polêmicas no Congresso falando em banir a venda de carros a gasolina e diesel a partir de 2030 e restringir totalmente a circulação em 2040, mas isso hoje é mais debate político do que consenso real.

Resumo honesto para os próximos 10 anos no Brasil:

  • É muito improvável que seu carro a combustão se torne “fora da lei”.

  • É bem provável que algumas cidades comecem a restringir mais os mais antigos e poluentes em certos bairros ou horários, copiando modelos de “zonas de baixa emissão” já comuns na Europa.

4. O que muda na prática para quem continuar na combustão até 2035

Vamos sair da teoria e entrar na vida real. Pense em quatro impactos:

4.1. Valor de revenda e liquidez

Hoje, o comportamento de preço é misto:

  • Em alguns mercados europeus, estudos mostram que EVs mais antigos ainda depreciam mais rápido do que carros a combustão, porque a tecnologia muda depressa e há dúvidas sobre bateria e mercado de usados.

  • Em outros, dados recentes da IEA indicam que a revenda de elétricos de 12 a 36 meses vem melhorando, encostando ou superando outros powertrains em determinadas faixas.

Para o seu carro a combustão, o verdadeiro risco de desvalorização acelerada aparece quando governos começam a restringir circulação ou tributar mais forte os modelos antigos com altas emissões, como já ocorre em cidades europeias com zonas de baixa emissão.

Nos próximos 10 anos, é razoável esperar:

  • Carros a combustão bem cuidados, com padrão atual de emissões, continuam tendo mercado, especialmente em países como o Brasil.

  • Modelos muito gastões, antigos e sem etiqueta ambiental tendem a perder atratividade antes dos outros.

Ou seja: não é “todo carro a combustão” que vira bomba — são os piores perfis primeiro.

4.2. Combustível: vai faltar? Vai explodir de preço?

Falta de combustível não é um risco real no horizonte de 10 anos. A demanda global por gasolina e diesel deve cair gradualmente, mas ainda será gigante, especialmente em transporte pesado, aviação e em países com baixa penetração de EV.

O que muda é o papel relativo dos combustíveis:

  • Em países desenvolvidos, gasolina e diesel tendem a ficar mais caros por imposto ambiental, não por falta física.

  • No Brasil, o etanol ganha relevância como forma “mais limpa” de manter a frota flex rodando, ao mesmo tempo em que os elétricos vão ocupando seu espaço.

Nos próximos 10 anos, o cenário mais provável é:

  • Combustível fóssil continua existindo, mas a conta de rodar muito em carro beberrão fica cada vez menos competitiva frente a elétrico e híbrido.

  • Quem conseguir rodar de etanol em flex eficiente ou migrar para híbridos bem acertados terá uma transição mais suave.

4.3. Manutenção e disponibilidade de peças

Montadoras não desligam suas linhas de peças do dia para a noite. Mesmo com metas de fim de vendas, a frota a combustão continua enorme, e isso gera mercado lucrativo por décadas.

O que deve acontecer:

  • Peças de desgaste comum (freio, suspensão, lubrificantes, etc.) continuam fáceis e baratas, porque a base instalada é gigante.

  • Componentes específicos de motores pouco vendidos ou nichados podem ficar mais caros com o tempo.

  • O mercado paralelo (aftermarket) tende a manter oferta por muitos anos, especialmente em países que ainda usam muito motor térmico.

O risco real aqui, de novo, é para modelos raros, importados de baixo volume ou com suporte fraco de pós-venda, não para a frota popular.

4.4. Regulamentos locais: onde o cerco realmente aperta

Até 2035, a grande mudança não é um “apagão” da combustão, e sim o aumento de restrições localizadas:

  • Zonas em que carros mais antigos pagam mais caro para entrar ou simplesmente não podem circular em determinados horários

  • Vagas preferenciais ou subsídios para táxis, frota por app e frotas públicas elétricas.

  • Incentivos fiscais (ou cortes deles) que deixam o 0 km a combustão menos vantajoso, mesmo ainda permitido.

Para quem usa o carro principalmente em bairros periféricos ou cidades menores, o impacto tende a ser muito menor.
Para quem depende de centros congestionados e regulamentados, o aperto vem antes.

5. E se eu quiser manter meu carro a combustão por mais 10 anos?

Se você tem hoje:

  • Um carro recente (até uns 5–7 anos de uso), bem cuidado, com consumo decente,
    é perfeitamente plausível mantê-lo até 2035 sem virar “pária do trânsito”.

O que pode mudar é:

  • Quanto você paga para rodar (combustível + impostos);

  • Quanto ele ainda vale na revenda lá na frente;

  • Em quais regiões e horários ele continua tendo acesso sem restrições.

Se o seu carro já é:

  • muito antigo, muito gastão, com manutenção sempre no limite,
    tende a ser exatamente esse perfil que as políticas vão mirar primeiro: mais imposto, mais restrição de circulação, mais dificuldade de vender bem.

A pergunta honesta não écarro a combustão vai acabar?”.
Mas sim: o meu carro específico continuará fazendo sentido econômico e prático para mim?

6. O que ninguém te conta: o risco não é o motor, é a rigidez da sua estratégia

O maior erro que muita gente está cometendo é olhar o debate como time de futebol:

  • “Elétrico é modinha, nunca vou ter.”
    ou

  • “Combustão é coisa do passado, só maluco compra.”

Os próximos 10 anos não serão 100% elétricos, nem 100% combustão. Serão, quase certamente, uma década híbrida:

  • elétricos crescendo forte nas vendas,

  • híbridos ocupando a ponte,

  • flex e etanol segurando a transição em países como o Brasil,

  • e a frota a combustão ainda gigantesca nas ruas.

O risco não está em ter um carro a combustão.
O risco está em ignorar completamente o que está mudando e tomar decisões como se nada fosse acontecer.

Se você pretende trocar de carro nos próximos 3 a 5 anos, vale começar a se perguntar:

  • Eu rodo mais em cidade ou estrada?

  • Tenho onde carregar um elétrico com conforto?

  • Híbrido bem acertado não faria mais sentido que um 0 km puramente a combustão?

  • Se eu insistir em um modelo muito beberrão, estou preparado para pagar essa conta inclusive na revenda?

7. Então… carros a combustão vão acabar mesmo?

Num horizonte de 10 anos, a resposta honesta é: não.

Eles vão:

  • Perder espaço nas vendas novas,

  • Ser progressivamente empurrados para nichos (quem roda pouco, colecionadores, aplicações específicas),

  • Pagar mais caro onde forem mais poluentes e menos eficientes.

Em 20, 30 anos, é possível que o carro a combustão vire exceção, não regra — principalmente em grandes centros urbanos, países ricos e regiões com infraestrutura elétrica robusta.

Mas o que importa para você, agora, é outra coisa:

Seu carro atual e sua próxima compra precisam fazer sentido dentro de uma transição em andamento, não em um mundo estático.

Se você entender isso, em vez de reagir por medo ou modinha, consegue:

  • extrair o máximo valor do carro a combustão que já tem,

  • escolher a hora certa de migrar (para híbrido, elétrico, ou até um flex bem usado com etanol),

  • e não ficar preso a narrativas extremas.

Carro a combustão não “acaba” de um dia para o outro.
Mas o mundo ao redor dele já começou a mudar — e os próximos 10 anos são exatamente o período em que ignorar isso deixa de ser opção barata.

Se você quiser, no próximo artigo podemos entrar na parte bem prática:
como fazer uma checklist de futuro para o seu carro atual (combustão, híbrido ou EV) e descobrir se vale manter, trocar ou dar o salto para o elétrico agora.